Por volta das 20 horas, poucos se aventuravam na porta do Lapa. Na verdade, deu até um certo receio de que o público poderia ser um fiasco, como foi a apresentação das bandas Acheron e Grave, ano passado. Mas não passou de um susto. Assim como no futebol, o mineiro gosta mesmo de chegar ao matadouro somente em cima da hora. Quando a banda principal subiu ao palco, a casa estava praticamente lotada.
Os primeiros a mostrar seu trabalho foram os splatters do Pathologic Noise. Com som cada vez mais refinado, em função da longevidade, a porradeira estava decretada. Apesar daquele experimento de som costumeiro para as bandas de abertura, Tchescko Suppurator e seus comparsas deram conta de mostrar ao público qual era a proposta da noite: metal extremo sem firulas e rótulos banais.
Na sequência, uma grata surpresa para este repórter. Do Rio de Janeiro, a banda Enterro veio sepultar qualquer resquício de preguiça no Lapa. Black Metal coeso, direto, com várias referências a baluartes do estilo, como Darkthrone e Marduk, inclusive com direito a cover dos suecos – muito bem executado. Destaque para o vocalista Nihil. Além de vociferar as blasfêmias de praxe, o careca se destaca pela postura de palco. Desde o “cálice de sangue” que bebe e deixa escorrer pelo corpo até as caras e gestos, o cara é bem teatral. Dá pra ver que ele gosta do que faz.
Na sequência uma das melhores bandas de Thrash Metal brasuca na atualidade. Vindos de Brasília – sim, lá tem coisa boa também – a banda Violator mostrou que pode chegar longe, muito longe. Calcados especialmente no Thrash oitentista americano, especialmente da Bay Area, os moleques não ficaram um minuto parados no palco. Batiam cabeça e cantavam no melhor estilo Anthrax e Exodus. A música é da melhor qualidade, o segredo parece ser não mudar em nada o que monstros do Thrash faziam no passado. Não obstante a competência, os rapazes têm humildade e carisma, atributos que podem catapultá-los ao patamar de grandes nomes da cena brasileira, como Korzus, Sepultura e Chakal.
Por falar no canídeo do Metal, hora da apresentação de um dos dinossauros da escola mineira. Wladimir Korg e companhia subiram ao palco para mais um culto musical, criado desde meados da década de 1980. Com repertório ainda baseado no visceral Demonking, os caras provaram que idade é uma questão simplesmente numérica. Sem desmerecer o talento dos músicos, Korg é o protagonista. Às vezes duelando com o microfone, como se quisesse derrubá-lo, ora sendo seu amigo, apoiando o rosto nele, sua voz é única. E aqui vai uma boa notícia para os fãs. Segundo o baixista Giuliano, em 2010 tem trabalho novo saindo. Uma prévia foi a quarta música da noite, "Island of Dead". Uma porrada com passagens mais soturnas, e excelente solo de Mark.
Chegada a hora do trio gaúcho. Alex Camargo (baixo/vocal), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria), vieram à cidade, mais uma vez, mostrar toda a técnica que possuem. Não é por sorte que os irmãos são referência no Death Metal mundial. Cada um se destaca no que faz. Alex tem um folêgo literalmente do cão, ele urra como se fosse o prenúncio do apocalipse na terra. Não somente, o cara segura muito bem a onda quando Moyses se envereda nos solos. Por falar no guitarrista, ele é a prova viva de que não é necessário uma dupla nas seis cordas para o som se tornar pesado e brutal. Quanto ao cara das baquetas, bem, vamos deixar para o próximo parágrafo.
Existe um excelente baterista no Brasil, que tem o apelido de “Polvo”. Isto porque seus braços se mexem muito rápido por todo o kit. Ok, Max não tem essa alcunha. Mas, definitivamente, ela é desnecessária. Quando o Krisiun começou o show, este repórter foi para o palco, próximo aos técnicos de som, para ver Max Kolesne trabalhar. E o quão agradável foi a experiência! Não precisa ser polvo, tamanduá, mico de circo, ou qualquer outro animal. O cara é muito rápido. Seus golpes parecem um tsunami em plena atividade, destruindo sonoramente tudo ao redor. Os blast beats se tornam blast beasts, tamanha a velocidade que ele impõe nos punhos.
Quanto ao set list, cinco músicas do último trabalho, entremeadas por petardos do discos mais propalados, como "Conquerors of Armaggedon" e "Assassination". Vale citar também a humildade dos caras. Quem acompanha a trajetória da banda, sabe que sempre quando vêem a BH, eles fazem questão de enaltecer a cena mineira. Nesta feita eles citaram bandas como Sárcofago, Mutilator e Sepultura, que elevam Minas Gerais ao posto mais alto do Heavy Metal brasileiro. Ok, muitos já sabem disso. O diferencial está em quem fala.
Alex Camargo e seus irmãos não precisam provar nada pra ninguém. Eles já cravaram o nome na história do Death Metal mundial. Muitos, quando fazem isso, se tornam vedetes do sucesso. Basta ver uma grande banda de Thrash Metal da Bay Area, que deixou de açoitar há bastante tempo, chegou a fazer terapia coletiva e hoje tem grana saindo aos poros. Guardada a devida proporção, a atitude é o que conta. Por isso, quando o Krisiun reverencia o passado, sendo a maior realidade brasileira, merece aplausos.
Como este foi o último show da turnê, fica a expectativa para que o trio maldito do Sul volte para seus recônditos obscuros, no intuito de lançarem mais uma prova consistente de que eles não só aprenderam, como hoje ensinam Death Metal com extrema eficiência."
